Como ajudar o seu filho
Emoções na infância
(Crónica publicada na Revista Vip, semana 01 a 07/6/2019)
Como psicóloga clínica proponho que reflitamos aqui um pouco sobre as emoções. Chegam-nos ao consultório diariamente casos de crianças com problemáticas de depressão e ansiedade, algumas vezes, como resultado de dificuldades em lidar e aceitar as emoções. Convido, aqui, os pais a questionarem-se: como posso ajudar o meu filho a melhor desenvolver as suas competências emocionais?
Antes de mais, considero central saber que quando ajuda o seu filho a identificar e a expressar as suas emoções de forma produtiva, está a contribuir ativamente para que se torne numa pessoa psicológica e emocionalmente saudável. De fato, amamos os nossos filhos e queremos o melhor para eles, queremos que sejam capazes de lidar com as dificuldades inerentes à vida e, ao mesmo tempo, que construam vidas satisfatórias e significativas. A boa noticia é que pode aproveitar qualquer interação quotidiana com o seu filho, agradável ou desagradável, como OPORTUNIDADE para o ajudar nesse sentido.
Vou, de seguida, deixar-lhe algumas dicas sobre como fazê-lo na prática:
Todas as emoções têm um valor positivo inerente
Sabia que todas as emoções primárias (alegria, tristeza, raiva, etc), agradáveis ou desagradáveis, são adaptativas e protetoras? Se não sabia, agora já sabe! Vou dar-lhe dois exemplos: quando alguém o/a ofende, emerge dentro de si a emoção de zanga, a qual lhe dá energia e motivação para se defender; quando perante um perigo real sente medo, esta emoção permite-lhe fugir ou lutar para sobreviver. Como pode ver as emoções protegem-nos, mesmo as que não são sentidas como mais agradáveis.
Agora que refletiu sobre o carácter adaptativo das emoções estará, com certeza, mais disponível e interessado/a em ajudar o seu filho a identificar e expressá-las da melhor forma, certo?
- Aceite as emoções do seu filho. Não as invalide.
Quando, no dia-a-dia, o seu filho se sentir zangado ou estiver a passar por um momento difícil, pode acontecer que ele fique emocionalmente desregulado. Para o ajudar, em vez de lhe explicar através de razões lógicas que não se deve sentir assim porque não há motivo, procure validar as suas emoções, dizendo-lhe que compreende como ele se sente, ajudando-o a expressar-se e a aceitar essas emoções. - As emoções não duram para sempre. São como ondas.
Pode ser muito útil para o seu filho compreender que as emoções são estados/condições temporárias. É importante que ele perceba que não vai sentir-se triste, zangado ou sozinho para sempre. Quando o seu filho se sentir inundando por emoções fortes e assustadoras pode recorrer à metáfora das ondas para tentar ajudá-lo a compreender que as emoções vêm e vão. - Ligue-se emocionalmente primeiro, eduque depois
Sempre que o seu filho se sentir emocionalmente perturbado, tente conectar-se emocionalmente com ele primeiro e só depois educá-lo. Por exemplo, imagine que o seu filho se sente muito frustrado porque perdeu um jogo, esta não é a melhor altura para lhe dar um sermão e falar sobre a importância de saber perder. Na verdade, enquanto ele estiver emocionalmente perturbado não estará disponível para escutar. Nestes momentos de crise emocional ele necessita sobretudo que o valide, que reconheça as suas emoções e empatize com ele. Quando a tempestade emocional tiver passado, ele estará mais recetivo e capaz de assimilar o que tem para lhe transmitir, sendo então possível apelar ao seu raciocínio lógico e refletirem em conjunto sobre a importância de saber perder. - Contar e recontar experiências marcantes e/ou traumáticas ajuda a processá-las e a lidar com elas
Os pais, geralmente, evitam falar com os filhos sobre as experiências traumáticas, pois receiam aumentar a dor dos filhos ao falar sobre elas. Mas é exatamente o oposto, uma vez que sabemos que falar sobre os acontecimentos dolorosos ajuda as crianças a perceber o que lhes aconteceu e a conseguirem sentir-se melhor. O cérebro humano tem necessidade de atribuir coerência e sentido ao que acontece. Assim, o que sugiro é que ajude o seu filho neste processo, incentivando-o e auxiliando-o a contar uma e outra vez a experiência, reconstruindo a narrativa do que lhe aconteceu. Quando atribuímos significado e aceitamos as experiências dolorosas, elas tornam-se menos assustadoras e causam-nos menos sofrimento.
Em síntese, não é favorável nem produtivo proteger o seu filho das inevitáveis dificuldades da vida. Pelo contrário, aproveite essas dificuldades como oportunidades quotidianas para o ajudar a integrar as suas experiências, aprendendo e crescendo saudavelmente com elas.